Viajei: SOCORRO — São Paulo-SP 2024/25: Voo de ida e volta

Eis um relato de viagem que fecha 2024 e inaugura 2025. Entro no temido avião antes do natal e só volto uma semana depois do réveillon! Vem comigo? Falarei sobre os voos entre Salvador–São Paulo, ida e volta.

 
 

Véspera da viagem

Sabe quando o medo bate dias antes do voo (no meu caso, quase sempre)? Pois o meu resolveu “tocar a campainha”do meu cérebro na madrugada da antevéspera da viagem. Acordei do nada, com ansiedade. Olhos bem abertos encarando o teto. Dali a dois dias partiríamos para São Paulo, onde eu e meu marido passaríamos o Natal em família (em Campinas) e o ano novo com amigos na capital. Já no dia tão temido, eu acordei cedinho (gosto de fazer as coisas com calma). Sentia o corpo meio dolorido, uma moleza e uma leve tosse. Gripado? Era só o que me faltava para completar o combo — e de fato adoeci no dia seguinte, com febrão e tudo. Minutos antes do motorista que nos levaria ao aeroporto chegar, uma agonia. As malas ainda não estavam fechadas. Esse estresse me deixa ainda mais nervoso e só piora o medo de voar. Pra piorar, o motorista bateu o fundo do carro dele na garagem aqui do prédio, que mais parece um jogo de Tetris, com colunas assassinas. Pra tornar tudo ainda mais caótico, eram 4h30 e ele dava claro sinais de estar sonolento. Que delícia, não? Tudo pronto para um voo bem pacífico.

Mas deu tudo certo. Chegamos bem ao aeroporto de Salvador. Check-in feito, malas despachadas. Indo pro portão de embarque na nova ala, distante dois dias de caminhada, vou congelando aos poucos. Estava de bermuda e sem casaco (afinal, é verão). Big mistake! Big! Huge! Para piorar, descobrimos que o avião estava atrasado — atrasou quase três horas. E eu virando um frango congelado. Depois acho que de tanto o povo reclamar do calor o pessoal da área técnica deve ter dito “Ah, é? Tão achando ruim? Então tomem”. E enfiaram o frango congelado no forno a 180 graus celsius. O suor brotava. Parecia aquelas provas do BBB que eles ficam alternando a temperatura para o participante desistir. Para deixar as coisas ainda mais delicinha, o plano de tomar um brunch em São Paulo foi transferido para tomar um café da manhã superfaturado na única lanchonete do espaço aberta naquela hora. Mãos para o alto. E para um intolerante à lactose (eu) e um vegetariano (Rafa) as opções eram bem escassas e igualmente caras.

Alguns passageiros foram assuntar com os funcionários da Latam sobre o motivo do atraso. Eu estava um pouco distante do balcão, então as informações chegavam meio pingadas, um verdadeiro telefone sem fio. Aparentemente o voo estava sem tripulação, algo como “deveriam ter chegado a Salvador em um voo, mas não chegaram”. Depois, fiquei sabendo (verdade? Mentira?) que a pista maior estava passando por pequenos reparos e não poderíamos decolar da pista menor pois o avião estava lotado, e, portanto, mais pesado. Eu já não sabia o que era mais grave: o medo de voar, o medo de não voar por conta de um voo cancelado, o frio, o calor, o desconforto da cadeira. Escolha sua opção. Eu odeio atraso (quem gosta?) pois sempre fico na neurose de “será que tem algum problema técnico com a aeronave e não querem nos contar?”.

 

Voo atrasado, panicado medicado sofre

 

Indo para SÃO PAULO

Até que enfim liberaram a pista maior e o embarque. Finalmente iremos voar (notícia boa e ruim ao mesmo tempo).

Eu não consegui comprar a primeira fileira, como costumo fazer (tem matéria do rivotravel sobre isso clicando aqui) por uma falha do site da Latam. Acabei viajando na fila 3. Pior: no assento do meio (tenho 1,87m de altura). Mas estava tão grogue de sono e por conta do remédio para ansiedade que passei quase o voo todo dormindo. O que também ajudou foi o par de abafadores de ruídos que a querida amiga, leitora e panicada Lola trouxe para mim da Alemanha. Ajudou demais a relaxar! Um sucesso. Acho que os barulhos estranhos que o avião faz, por mais que eu saiba o que alguns significam, acabam piorando minha aerofobia.

Mas por causa dos abafadores acabei passando por uma situação breve e aflitiva. Estava eu mais pra lá do que pra cá, quase babando, e ouço de longe o aviso do comissário. No meio do anúncio ele inseriu a palavra“sustentabilidade”(depois entendi que ele estava falando do compromisso da empresa aérea com a natureza). Mas eu, louco, sonolento, meio surdo e medicado entendi “sustentação” (ou seja, o que mantem o avião no ar). Na hora a adrenalina foi a mil, viajei na maionese achando que era um comunicado do piloto dizendo que teríamos de voltar a Salvador pois estávamos com um problema de sustentação da aeronave. Afff, nem gosto de lembrar.

E nesse voo, que descobri que Rafa tem medo de turbulência? Eu acho incômodo, fico repetindo mentalmente “turbulência não derruba avião”, o que é verdade, já até escrevi sobre o assunto no rivotravel (você pode ler clicando aqui — dentre vários outras informações sobre turbulências em voos). Mas Rafa tem medo real. Quem diria que eu, panicado que sou, teria de ficar confortando meu marido em momentos difíceis do voo?

Bem, o avião pousou. O Natal foi uma delícia — super compensou os perrengues do voo de ida —, e os dias em São Paulo idem. Começar o ano viajando é bom, concordam?


VOLTANDO PARA SALVADOR

Aí chegou a hora de voltar.

Dias antes já começaram os pensamentos negativos, a maioria das vezes antes de dormir, naquele momento “cabeça no travesseiro, eu, eu mesmo e meus medos”. Aquela certeza que “sim, o avião que vou pegar vai cair”. Rafael invariavelmente já estava dormindo nessas ocasiões (ele é do tipo abençoado que deita e dorme em um minuto). E eu que lide sozinho com meus pavores. Certa madrugada acordei ofegante, depois de pesadelos aflitivos dos quais não me lembro. E sempre me questionando: por que decidi viajar? (Resposta: porque é bom). Dois dias antes da volta, sai com amigos. No meio da conversa eles comentaram sobre o rivotravel, fizeram mil perguntas sobre o site. “Nãããão! Tudo que menos quero é falar sobre ele perto do voo”.

Um dia antes do retorno a Salvador, pego meu livro para ler (A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queiroz) e me vejo tendo pensamentos do tipo “antes é que era bom, viagens a cavalo ou de trem, sem sair do chão”. Mas também, o alcance era bem menor. Prós e contras.

Na última noite, vou dormir. Claro que tenho pesadelo de avião caindo. Mas, como sempre, escapo numa boa do acidente. Fã ou hater? Aproveito a noite insone para refazer a senha do app da Latam, de modo a ter acesso ao WhatsApp durante o voo. No meio da nova senha, coloco que a empresa é péssima. Depois me arrependo. “E se os deuses do capitalismo me punirem com a morte?”. Já não estou mais pensando direito.

De manhã cedo, faço uma videochamada para dar “bom dia” para minha mãe. Ela fala dos ventos fortes que está tendo em Salvador (e eu já pensando no pouso) e que em dois dias choveu o equivalente a todo o mês de janeiro. No fim, digo: “beijos, mãe, te amo”. Logo depois de desligar, penso: socorro, pareceu uma despedida. Aflito, vou checar as mensagens do Instagram. Um amigo que também ama aviação me manda um vídeo de uma evacuação de emergência. Finjo que não vi. Mas o cérebro gravou, certeza.

 
 

Esse último dia foi bem caótico. Momento de ir ao mercado para repor as coisas que usamos de minha sobrinha (ficamos hospedados na casa dela), fazer faxina no apartamento, fechar as malas. Terminamos tudo aos 48 minutos do segundo tempo, já na hora de ir pro aeroporto (de Congonhas! HELP). Odeio essas sensação de estar atrasado, de fazer tudo em cima da hora. Já nos acréscimos, Rafa pede para eu ir numa lanchonete hipster na rua ao lado comprar um delicioso sanduíche vegano. Corro já suando, pois lá é tuuuudo com muita calma. Vinte minutos exatos para preparar o lanche. E eu tendo um ataque de ansiedade. Já tomei ali mesmo o meu santo remedinho.

Indo para o aeroporto, olhei pela janela e vi um grafite com um avião. Aviso? Gatilho? Cancelar o avião e procurar casa em São Paulo?

 

O espaço maior na primeira fileira me ajuda muito com a aerofobia

 

Dessa vez, pelo menos consegui comprar a primeira fileira. Descobri na ocasião que a Latam simplesmente vende, por meio de um app parceiro de leilões, a primeiro fileira. Eu gosto pois o embarque é prioritário, menos filas e caos, há mais espaço para pernas e um contato maior com a tripulação.

Por falar nela, a comissária e o chefe de cabine foram extremamente incríveis. Assim que eu falei que tinha medo de voar eles voltaram todas as atenções para mim, dizendo que qualquer dúvida era só perguntar, inclusive sobre o barulhos que o avião faz (e que tanto assustam os panicados). Bruna e Victor, amo vocês. Ela disse que ia deixar no modo transparente o vidro que separa o assento dela do resto da cabine (geralmente fica fosco) na hora da decolagem, para que eu pudesse olhar para ela e me tranquilizar. E de fato, ver a tripulação zen dá uma paz danada. Victor, o chefe de cabine, disse que o tempo em rota tinha melhorado, que havia previsão de algumas turbulências, mas bem leves,e que tudo indicava que o pouso seria suave. Afirmou que o piloto era bem experiente.

Acho que foi um dos melhores voos de minha vida. Me senti super confiante (na medida do possível).

Por mais e mais tripulantes que nem Bruna e Victor.

* * *

E por mais e mais viagens. Para mim e para você, querida leitora/leitor.

Ainda dá tempo de desejar Feliz 2025? Como é a primeira matéria do rivotravel do ano, acho que a resposta é afirmativa. Deu tempo de comprar o tal sanduíche hipster vegano, imagina se não ia dar tempo de desejar às leitoras e leitores um lindo Ano Novo. Com menos medos, se possível.

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